História Oficial
TRADIÇÃO E CULTURA
Patrimônio histórico e cultural
O patrimônio histórico e cultural da Serra é riquíssimo. Além do folclore típico e da Igreja e Residência Reis Magos, encontra-se ainda a Capela de São João Batista, que integra o projeto do Parque Arqueológico de Carapina. Ela foi construída em 1584 e tombada pelo Conselho Estadual de Cultura em 1984.
Outro sítio histórico e cultural do município é o de Queimado, que foi palco de uma insurreição de escravos liderada pelos heróis Chico Prego, João da Viúva e Elisiário, em 19 de março de 1849. Composto pelas Ruínas da Igreja de São José e pelos resquícios arqueológicos do povoado, foi tombado pelo Conselho Estadual de Cultura em 1993.
No Centro da Serra, construída em 1769, está a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição. Nos seus jardins é fincado o Mastro, símbolo máximo da festa do Ciclo Folclórico e Religioso de São Benedito, realizada há mais de 160 anos, no dia 26 de dezembro. Bem próximo, está a Estátua do líder negro Chico Prego, o Museu-residência Histórico da Serra e o espaço multicultural Casa do Congo Mestre Antônio Rosa, que expõem objetos relacionados à história e à identidade local.
Fonte: http://www.serra.es.gov.br/pagina/tradicao-e-cultura
História contada por pesquisadores
Em viagem formativa ao sítio histórico de Serra Sede, nos dias 5 e 18 de outubro, fomos guiados, respectivamente, pelo historiador Michel Dal Col Costa e uma figura popular muito especial da região, Teodorico Boa Morte. Em entrevista com esses personagens serranos, percebemos o quanto a história da região está atrelada ao distrito rural de Queimado.
Traços desta história estão evidenciados nos monumentos materiais e imateriais que compõem atualmente a região: a Igreja da Matriz, a escultura do Chico Prego, a Casa do Congo, o Museu Histórico da Serra e as pinturas sobre azulejo na praça, de Assis. No distrito rural de Queimado, ainda é possível visitar as ruínas da Igreja São José. Estes são alguns elementos que resguardam essa história e possuem grande potencial para explicarmos o que é a cultura e como ela está sendo tratada.
Por meio da narrativa de Costa (2019), que tem como foco de suas pesquisas a perspectiva da História Social e é morador da região desde a infância, ao ser questionado sobre a valorização da cultura serrana nos ambientes formais de ensino, as bandas de Congo mirins destacam-se ao levar experiências da cultura afro-brasileira aos estudantes de ensino fundamental, sendo um movimento liderado, não por técnicos pedagógicos ou acadêmicos, mas pelos conhecidos “mestres do folclore”.
Essas lideranças das bandas de Congo, que perpetuando saberes e práticas, num primeiro momento autonomamente, lançam desafios para a agenda pedagógica, no sentido de proporcionar experiências para além do currículo formal e a sala de aula, recebendo posteriormente o apoio da administração municipal e que hoje abrange diversas comunidades.
Figura 1 – As bandas de Congo Mirins
Fonte: Acervo de Costa, 2012.
As bandas de Congo mirins, constituem um elemento muito importante para a identidade capixaba, sendo que os feitos destes trabalhos realizados podem ser visualizados na Casa do Congo.
Figura 2 – Casa do Congo
Fonte: Acervo de Figueiredo, 2019.
Na Casa do Congo, os visitantes podem ser recepcionados por Teodorico Boa Morte, descendente de negros e índios, é reconhecido como artista popular do Espírito Santo, tendo publicado em 1998 a primeira edição do livro “Insurreição do Queimado em Poesia de Cordel”.
O episódio da História do Espírito Santo conhecido como “Insurreição do Queimado” foi um levante de escravos negros que se iniciou em 19 de março de 1849 e se estendeu por cinco dias. Em meio a outros movimentos igualmente importantes, é hoje o maior símbolo de resistência negra e da luta pela liberdade em solo capixaba. (BOA MORTE, 2019, p. 65)
A publicação da obra foi dedicada à memória de Walter Francisco de Assis, ou “O cara que pintou a Serra”.
[…] Ele tinha especial carinho com a revolta de escravos negros havida no Distrito do Queimado em 19 de março de 1849 e garantia ser descendente de Elisiário, tido como mentor intelectual da Insurreição. (BOA MORTE, 2019, p. 3)
Figura 3 – A Serra Colonial, de Assis
Fonte: Macedo; Forste; Chisté (2008)
Além de literário, também se descobriu como músico em 1974, sendo um dos fundadores da Banda Estrela dos Artistas.
Para entender o histórico da banda “Estrela dos Artistas”, precisamos saber que a primeira banda marcial denominada Recreio dos Artistas, originou-se em em 1860 pela Guarda Nacional, intentando recepcionar o imperador Dom Pedro II em visita ao Espírito Santo, já a Lira Estrela do Norte, fundada em 1892 estava ligada as festividades católicas. Por volta da década de 40, ambas bandas acabaram encerrando as atividades, devido a morte de seus maestros.
Em entrevista com Costa (2019), ao comentarmos sobre o caráter de resistência presente nas manifestações artísticas culturais de Serra Sede/Queimado, percebemos que Teodorico Boa Morte, dentre outros músicos, ressignificaram a proposta das bandas marciais ao refundarem esta tradição.
Referências:
COSTA, Michel Dal Col. As bandas de congo mirins: ensino popular e
vivência de cultura afro-brasileira na Serra (ES). Revista História. Hoje, v. 1, nº 1, p. 157-178 – 2012
MACEDO, Érika Sabino de; FOERSTE, Gerda Margit Schütz; CHISTÉ, Priscila de Souza. Na ciranda da arte capixaba: diálogos, brincadeiras e leitura de imagens. Vitória: FACITEC/ GM Gráfica e Editora, 2008.
MORTE, Teodorico Boa. Insurreição do Queimado: em poesia de cordel. Vitória: Ed. do autor, 2019